segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Eu não entendo meu próprio acordo gramatical.

Sabe, depois de tudo isso,


alguém num gesto imponente


se levante, no meio da multidão que havia acabado de aplaudi-lo


e grita aos quatro cantos:


"O Vitor é um grandessíssimo babaca!"


Ele já contava com isso.


Já estava tomando fôlego para voltar a discursar,


dizer seu discurso ensaiado,


onde no final de tudo,


devido a uma serie de argumentos


dos quais eu duvido que sejam verdade


e devido a entonação fervorosa


dada às palavras de qualquer bom discurso,


todos se convenceriam de que o Vitor não é tão mal assim.


Ele não contava com aquele pino


feito de ferro, ferro imaginário, como tudo lá


mas ferro sólido, do tipo que foi feito pra machucar;


saiu da granada, e ficou estendido no ar


por exatos oito minutos.


No quinto as pessoas que estavam em volta


se deram conta da situação, e 2/3 correram


enquanto1/3 se jogou em cima,


num ato heróico, idiota e impensado.






Foi tudo pra porranenhuma,


o lugar pra onde as coisas imaginarias vão


depois que explodem.


e só ficou o Vitor lá.






Sozinho.






Pensando em suicídio.






Pensando que ele já estava cansado


de estar de saco cheio de tudo


o tempo todo


ou pelo menos


de dois em dois dias.






Pensando no tempo dele indo embora.






... e pensando em como terminava aquele texto


que ele havia acabado de escrever


em um bloco de notas que ele acabou fechando sem salvar


propositalmente,


e que daria sentido a isso tudo.






Ele olhou pra uma nuvem, num pedaço de céu azul


que sobreviveu a mais de uma semana de dias nublados


e disse para ela:


"quando eu for velho


vou gostar de tudo


de todas a flores no meu caminho


de todo esse tempo


que fiz questão de desperdiçar em minha juventude."






Então ele ficou sentado, esperando o temporal passar


para que ele pudesse recomeçar a construir tudo...


estava chegando, a demora era sinal


de que estava chegando.






Uma hora mais tarde


a poeira da explosão baixou,


e ele pôde ver no horizonte


que era chegado o momento.






Ele vomitou como fazem os homens


e passou a madrugada escrevendo uma porrada de textos


que mais tarde nem ele mesmo entenderia.






...mas escreveu, e gostou,




disso se lembraria.

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