quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

todo mundo me deprime

eu nunca espero que alguém vá ler o que eu escrevo...
nisso eu acabo escrevendo umonte de coisas sem sentido e erradas gramaticalmente...
tipo "umonte".

vou parar de me preocupar com a letra maiuscula
e com a coerencia
e até com alguns acentos...
vou parar de tomar banho
escovar os dentes ainda vou
mas só por medo das caries.
parar de me importar com o cabelo eu ja parei
mas acho que posso parar mais.
vou começar a andar pelado
e eu sempre tive
uma imensa vontade
de cultivar feijões no meu buraco do umbigo,
enfim ele terá uma utilidade,
além de me alimentar por nove meses!

Vou agir como idiota o dia todo
ou não
ou não vou agir...
é, não vou agir.
vou ficar deitado em posição fetal, até um dia eu morrer
e vou fazer um mecanismo que quando eu morra
caia um palito de fosforo aceso
em uma poça de alcool
e mande tudo pro inferno.
tchau, ninguém.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Coleção de olhares.

Eu ando por pessoas no Rush.
Pessoas indiferentes.
Apressadas pra chegar no trabalho
apressadas pra chegar em casa
apressadas pra sair com amigos
ou só apressadas.
Sou o mais lento
e o mais observador
dos transeuntes.
Me tornei um especialista
nos sentimentos da hora do Rush.

Uma mulher
com cinquenta quilogramas em bagagens
um filho de seis meses pendurado,
quase caindo
na altura da cintura.
Outra era uma menininha de cabelos marrom
segurando na barra de sua camisa branca,
eu já entro mais no mérito da questão.
O último era um rapazinho
moreninho
com sua pequena mochila
mais novo de idade do que a ultima irmã
mas este era mais independente.
Estava só observando a mãe,
as irmãs,
a um metro de distância.
E foi o primeiro a me dar um olhar.
Aqueles olhares com a cabeça abaixadas, bem profundos
como que perguntando o que eu queria com ele,
como que se defendendo de tudo e de todos.
Eu olhei-o com a mesma determinação.
Concentrando me naquele ser
tão, mais tão pequeno
desprotegido
e de repente
com vergonha.
Uma vergonha até engraçada de ver
porque era vergonha natural de criança sendo observada.
ele desviou o olhar, se aproximou mais da mãe, e foi aos poucos pra traz dela.
E lá atrás era uma criança novamente.
Crianças se entregam nos olhares,
não sabem o quão perigosos eles podem ser.
Não sabem o quão perigoso se entregar é.
Ao ver a aproximação do irmão
a mais velha também me olhou.
Ah, aquele olhar, queria que
quem lê esse texto
pudesse ter uma noção
do que é aquele olhar.
Dói e conforta ao mesmo tempo.
Aquele olhar de baixo pra cima
de medo, submissão, inferioridade
mas acima de tudo, e mais importante
um olhar de curiosidade,
curiosidade infantil, apesar dos pesares.
Curiosidade de quem ainda não viu o suficiente,
e ainda acredita que há algo pra ser visto no mundo, nas pessoas, e na vida.
Eu pude sentir uma curiosidade infantil crescendo em mim,
me peguei no ato de inclinar em direção a ela
na tentativa de desvendar aqueles dois pontos negros
Aqueles pontos de sabedoria e vergonha...
A sabedoria de quem nada sabe
e tudo quer saber.
Vergonha...
de criança.
Menina se junta ao menino
e juntos, inclinam a cabeça pra me olhar.
Logo a mãe, percebendo a movimentação traseira,
vira o rosto e olha para os filhos.
Ela vê os filhos vendo
e então vira o rosto pra frente
distraída
e vê o que os filhos estão vendo.
Então, tudo começa novamente.
Mas dessa vez, não sei, está....
diferente.
Dessa vez é uma adulta.
Aproveito os segundos de vantagem que eu tenho
como bom entendedor de olhares do Rush,
para penetrar em seu olhar, e colecionar seus sentimentos.
Mas não há sentimentos lá.
Nem dor, nem nada do tipo.
Só há um pedido de ajuda, meio que vazio
meio que já cansado de pedir e não ser ajudado.
Nem tenho tempo de pensar, quando vejo, já estou abrindo passagem
meio a uma multidão de anti-olhares
e me oferecendo para ajuda-la com a bagagem.
(Afinal, como eu saberia que a mala tinha 50kg se eu não a tivesse segurado? Dããã...)
Abriu-se logo um sorriso de simpatia, e houve uma movimentação, para transferir a bolsa enorme.
Eu vi uma barreira se quebrando nos olhos daquela mulher,
parecia que por entre aquelas olheiras cansadas
abrira uma porta para aquele algo mais.
Não direi, e nem preciso dizer
o que há no algo mais de uma mulher como aquela
com seus três filhos, em uma cidade grande
tentando apenas voltar para Ilhéus
sem ninguém para ajudá-la
levar até o terminal
segurar um bebê
ou uma mala.
e lá, senhores
estava eu.

Lá estava meu olhar também
olhando dentre os olhos dela
e me perguntando por que.
Por que tanto sofrimento, e bem
onde também há tanto amor?

Então ela ajeitou o bebê, com a mão que antes estava segurando a mala (que pesava 50kg)
e agora eu podia ver seu rosto, que antes estava esmagado sob a barriga da mãe.
O último, dos três moreninhos a conhecer esse mundo.
Eu divagava sobre a situação toda
meio triste
meio decepcionado
com as pessoas
com o mundo
com tudo que eu nem estava afim de dar nome.
Quando aquela criatura me lança um olhar.
E se em um olhar normal
podemos ver pelo que a pessoa já passou,
naquele olhar talvez eu tenha visto o que vem antes da vida
e ao mesmo tempo talvez
eu também tenha visto o que vem depois dela,
aquele infinito, nos brilhos dos olhos de um bebê,
como que um relato do quão não importante era tudo aquilo.